segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Alucinando com Björk

O céu é de um tom cinza-escuro, como prestes a derrubar toda a água possível, como se não a derrubasse há muitos meses. O vendaval também anuncia a chuva, varrendo tudo que há pela frente e fazendo esvoaçarem os cascalhos sobre o chão montanhoso. No alto da montanha, os sinos de uma igreja como a de Glastonbury soam violentamente e as irmãs, em seguida da abadessa, choram um canto mórbido.
Cascalhos, folhas, e hábitos ao vento - que se faz cada vez mais forte e avassalador- constituem uma cena amedrontadora, sombria, obscura. Não há pássaros, mas se houvesse seriam corvos. Não há símbolos, mas se houvesse seriam cruzes.
Tudo ao redor é feito de cores opacas, cores mortas, cores escuras. O cinza-negro do céu predomina causando uma forte sensação negativa de estremecimento acompanhado da angústia trazido pelo coro das freiras.
O canto, o tambor, o vento, o cascalho, as folhas, as cores, o cinza, o medo, o frio, o canto, o tambor, o vento, o cascalho, as folhas, as cores, o cinza, o medo, o frio...

PLUS

A sociedade contemporânea é um fruto da evolução dinâmica do capitalismo, que trouxe para o homem a ideia de individualismo metodológico. Se antes cada qual lutava por si, a inserção de um regime organizado para assegurar o privilégio de alguns apenas atenuou essa competição. A partir de então, perde-se a noção de individualidade e passa-se a espalhar por toda a sociedade um valor altamente egocêntrico.
Na era da informação é ainda mais evidente a presença do caráter individual, pois a tecnologia não para de desenvolver-se e as fontes de lucros não param de crescer. O mercado é exigente, a competição é gigantesca e as oportunidades são mínimas. Enxerga-se então a teoria darwinista sobre o organicismo, uma vez que o mais desenvolvido sobrevive. Faz-se presente a necessidade de destacar-se, de ser o melhor, o mais inteligente, o mais adaptado.
Desta forma, o ser humano está ofuscado pela sede de desenvolvimento particular e não há mais espaço, na sociedade contemporânea, para o altruísmo. Não se trata de uma questão de avidez por lucro, mas sim de sobrevivência.
O homem hoje em dia está preocupado demais em aprimorar seus aspectos qualitativos para a obtenção de progresso pessoal que mal sobra tempo ou vontade para lembrar-se de que há uma infinidade de semelhantes no mundo afora que também passam por dificuldades e são tão carentes de compreensão quanto ele próprio.

Uma Outra Faceta do Ego

Ao pensar-se em altruísmo lembra-se, automaticamente, de uma sociedade perfeita, na qual não existe egoísmo e cada indivíduo coexiste e existe um para o outro. É fato que, desde os tempos em que os ideais de liberdade foram expostos de forma revolucionária, cada homem procura incessavelmente seu próprio desenvolvimento, como numa corrida pelo sucesso político, econômico, religioso, social e intelectual.
Entretanto, através de uma análise minuciosa do plano social, é possível observar-se que não existe apenas um indivíduo, um interesse ou um ideal. Cada qual está necessária e irrevogavelmente relacionado a todos seus semelhantes, pois assim se faz a sociedade. A ação de um pode passar despercebido aos olhos de outro, mas traz consequências para todos aqueles que encontram-se à sua volta. Sendo assim, por mais que haja uma ganância inescrupulosa do homem, há também, instintivamente, uma necessidade altruísta.
Uma sociedade não se faz na base do egoísmo, uma vez que um indivíduo necessita do próximo para que façam ambos, parte de uma coletividade e, caso contrário, seriam apenas dois seres aleatórios sem nenhum laço social. Visto que o ser humano em sua racionalidade é destinado a viver em conjunto, não seria vantajoso para o desenvolvimento social deste o egocentrismo exacerbado.
Portanto, o altruísmo ainda tem lugar no mundo contemporâneo porém, por este ser um componente indispensável para o progresso individual, acaba confundindo-se com o próprio oponente, o egocentrismo, já que o homem geralmente só age de forma filantrópica a fim de seu próprio benefício.