Uma vida pacata e, no entanto, uma vida perfeita para alguém como eu, que sonhou durante anos com paz e serenidade. Sob um olhar evasivo observo a felicidade sonhada por tanto tempo; Através de uma análise categórica, enxergo nada além de hipocrisia habitando meu próprio âmago; Pertenço àqueles que analisam, idealizam e buscam uma maneira criativa de inovar e modernizar cada vez mais o próprio plano social. Entretanto, possuo traços discretos e, ao mesmo tempo, óbvios de conservadorismo e julgo a depravação como aqueles que viviam há séculos atrás; Defendo a liberdade de cada indivíduo porém julgo e rotulo o tempo todo pelo fato de possuir um comportamento obsessivo-compulsivo no sentido de padronizar a conduta alheia; Sou dotada de uma criatividade e um senso de humor que combinam perfeitamente e, ainda assim, toda vez que dou origem a um processo criativo, me canso e desisto logo. Mandriona e desleixada. Incomodo-me com a desorganização alheia mesmo que eu mesma a pratique.
E, no entanto, por trás da hipocrisia e da contradição, reconheço meus aspectos positivos.
Não contenho mais a inocência de uma doce garota, mas não possuo maldade dentro de mim. Erro como todo adolescente erra; Ofendo outros ao meu redor; Machuco pessoas queridas; Mas não por malícia ou insegurança. Erro e me arrependo. Erro e, quando sou capaz de reconhecer, procuro absolvição. Preocupo-me com o bem-estar daqueles à minha volta e prezo pela saúde de meus familiares. Sonho com um mundo onde cada pessoa tem discernimento e juízo. Sonho com uma sociedade onde cada indivíduo seja livre e compreendido.
Desta forma, concluo esta crítica com a consideração da minha pessoa e da minha vida como uma tentativa falha e blasfema de execução do bom modelo-social, por melhores que sejam as intenções de sua autoria.